A Orquestra 
	
	 
	 
	A orquestra é uma das mais belas formas artísticas de nossa 
	civilização. Através dela é possível vislumbrar a engrenagem de dezenas ou 
	centenas de vozes entoando num mesmo sentido a música escrita numa 
	partitura. Assim, num conjunto orquestral se encerram valores de uma grande 
	sabedoria intrínseca: A responsabilidade de cada um em gerar harmonia para 
	um conjunto. 
	Orquestra sinfônica ou filarmônica não especificam nenhuma diferença no 
	que toca à constituição instrumental ou ao papel da mesma, podem revelar-se 
	úteis para distinguir orquestras de uma mesma localidade. As duas se diferem 
	apenas na sua natureza, pois as filarmônicas são orquestras mantidas por 
	grupos de admiradores, instituição privada enquanto as sinfônicas são 
	orquestras mantidas pela Instituição pública. Sinceramente, hoje não se pode 
	dizer que no Brasil haja uma orquestra filarmônica, pois todas, sem exceção, 
	dependem do auxílio seja da iniciativa privada, seja dos governos municipal, 
	estadual ou federal. 
	Uma orquestra terá, tipicamente, mais de oitenta músicos e em alguns 
	casos mais de cem, embora em atuação esse número seja ajustado em função da 
	obra reproduzida. Em alguns casos, uma orquestra pode incluir músico 
	free lance para tocar instrumentos específicos que não compõem o conjunto 
	oficial: por exemplo, nem todas as orquestras têm um harpista ou 
	saxofonista. 
	
		
			
				
					Uma orquestra dispõe cinco classes de instrumentos: 
					cordas (violinos, violas, violoncelos, 
					contrabaixos, harpas, piano)  
					madeiras (flautas, flautins, oboés, corne-inglês, 
					clarinetes, clarinete baixo, fagotes, contrafagotes) 
					metais (trompetes, trombones, trompas, tubas)  
					instrumentos de percussão (tímpanos, triângulo, caixas, 
					bumbo, pratos, carrilhão sinfónico, etc.)  
					instrumentos de teclas (piano, cravo, órgão)  
					Entre estes grupos de instrumentos e em cada um deles 
					existe uma hierarquia implicitamente aceita. Cada secção (ou 
					grupo de instrumentos) provê um solista (ou principal) que 
					será o protagonista dos solos e da liderança do grupo. Os 
					violinos são divididos em dois grupos: primeiros violinos e 
					segundos violinos — o que pressupõe dois principais. O 
					principal dos primeiros violinos é designado como chefe não 
					só de toda a secção de cordas mas de toda a orquestra, 
					subordinado unicamente ao maestro, esse violinista é 
					denominado spalla. Nos metais, o primeiro trompetista é o 
					líder, enquanto que nas madeiras esse papel cabe ao primeiro 
					oboísta. 
					Atualmente, as orquestras são conduzidas por um maestro, 
					embora não fosse assim com as orquestras originais, sendo a 
					condução responsabilidade do líder de orquestra como nas 
					músicas barrocas.  
			 
		 
	 
	Tantos instrumentos, tanta variedade de timbres, tantas funções, e tudo 
	soando com perfeição. Cada homem, não importa o que toque, desempenhando da 
	melhor maneira possível, individualmente, sua função para que o conjunto 
	seja belo, e represente com maestria a Harmonia do Universo. 
	A palavra orquestra tem origem grega, e significa "lugar para dançar". 
	Embora possa parecer estranho, devemos levar em conta que para o grego o 
	conceito de teatro era bem diferente, e significava ao mesmo tempo música, 
	poesia, dramaturgia e dança. Nas encenações de tragédias, a orquestra era a 
	parte do palco que fazia fronteira com o anfiteatro, que por sua vez 
	continha o público. Assim, por razões mais relacionadas à disposição física 
	do que propriamente pelo seu significado intrínseco, é que a civilização 
	ocidental adotou o nome de orquestra ao conjunto instrumental que se 
	colocava próximo ao anfiteatro. O uso de tal denominação começou justamente 
	nos primórdios da renascença, quando nasceu a ópera, e a encenação das 
	óperas necessitava de um conjunto instrumental, situado entre o palco da 
	ação e o anfiteatro. Daí o termo. 
	A passagem da Idade média para a Renascença representou para a música um 
	período de intensas e ricas transformações, entre elas a quebra do monopólio 
	clerical na música, em que a escrita musical era restrita a apenas certos 
	domínios da igreja; podia então ser apreendida e compartilhada igualmente 
	por qualquer um que assim quisesse, fosse ele nobre ou plebeu. Assim, 
	valores musicais antes confinados tornaram-se públicos, dando início a um 
	grande processo de criação e expansão de gêneros e formas musicais, advindas 
	da mescla entre tradições populares orais e a escrita musical eclesiástica. 
	Não que não houvesse música popular antes; sempre houve, mas com pouca ou 
	nenhuma mistura de gêneros e influências. 
	 
	A Ópera representou a primeira união de tendências (ver o texto sobre
	
	ópera), a reunião de temas místicos e heróicos (retomada e releitura do 
	ideal da tragédia grega) postos num espetáculo que já podia ser chamado 
	'multimídia', de amplo alcance, apreciado pelas mais diferentes culturas e 
	classes sociais. Assim, pela primeira vez foi preciso que os músicos 
	pensassem numa distribuição instrumental mais complexa que a habitual. 
	Antes da ópera, a música 'oficial' nas cortes era religiosa, cuja 
	formação instrumental resumia-se a um órgão que acompanhava cantores, 
	solistas ou coros. Ainda que o órgão era já uma sofisticação, pois que no 
	séc. XI nenhum instrumento poderia acompanhar as vozes. Eventuais menestréis 
	e companhias itinerantes animavam os festejos feudais com aquilo que seria a 
	música popular, que então usavam instrumentos muito peculiares, muitos dos 
	quais evoluíram aos instrumentos modernos. 
	 
	A formação instrumental diversa foi uma necessidade que a ópera pela 
	primeira vez materializou; e como não existia uma tradição instrumental 
	naquela música antes oficial, a mescla de timbres foi o primeiro grande 
	desafio dos compositores. No início, não havia um padrão para a distribuição 
	dos instrumentos e nem mesmo algo que determinasse a quantidade e a 
	diversidade deles. As primeira óperas eram orquestradas com uma variedade 
	estranhíssima de timbres e o uso constante deles acabou por mostrar, na 
	prática, a forma mais eficiente de equilibrar uma massa instrumental 
	diversificada. 
	A título de exemplo, uma lista de instrumentos típica da Renascença, para 
	a ópera de Claudio Monteverdi, Orfeo (1607): 
	 
	2 cravos 
	2 violas contrabaixo (equivalente ao contrabaixo acústico moderno) 
	Grupo de 10 cordas (provavelmente os violinos, violas e cellos) 
	1 harpa dupla 
	2 violinos piccolo 
	2 alaúdes-baixos 
	2 órgãos portáteis de tubos de madeira 
	3 violas da gamba 
	4 trombones 
	1 órgão de palheta 
	2 trombetas (o moderno trompete) 
	1 flauta doce 
	1 clarino (trompete agudo) 
	 
	Temos claramente um exemplo de uma mistura de timbres bastante incomum; 
	diríamos até moderna, apesar de muitos destes instrumentos não mais 
	existirem atualmente, ainda que possam ser substituídos por timbres 
	similares ou reconstituídos por lutieres (artesão que fabrica e conserta instrumentos) 
	especializados. 
	 
	A formação timbrística projetada pela ópera despertou o interesse pela 
	música puramente instrumental, e que também começou a ser cultivada pela 
	aristocracia e nobreza, aparecendo nestas classes a figura do mecenas, 
	ou o patrocinador da arte. Um pouco da mescla da música popular com a música 
	escrita - que era justamente o diferencial entre ambas - tornou a música 
	erudita, de gosto refinado por conter elementos simples ao gosto do público 
	mas de discurso elaborado, de lógica mais complexa e caráter nobre. O gênero 
	instrumental foi um dos mais cultivados no período Barroco, que 
	explorou largamente diversas combinações instrumentais, assim como vocais na 
	ópera. 
	
	
		
			
				| 
				 
				
				  
				típica orquestra barroca, por volta de 1700. Os músicos se 
				reuniam em volta do cravo contínuo em salões reais  | 
				
				 
				No barroco, a 
				variedade dos instrumentos, considerando apenas a música 
				puramente instrumental, diminuiu sistematicamente, até o mínimo 
				possível. Em parte para poder ser apreciada em salões dos 
				palácios, que possuíam alguns entraves acústicos, e em parte por 
				que não havia necessidade de muito volume sonoro, uma vez que o 
				espaço e o público eram restritos. A ciência musical incluía a 
				acústica, e os compositores conheciam suas leis, ainda que 
				intuitivamente.  | 
			 
		 
	 
	
	 
	Assim, temos a seguinte distribuição de elementos: (O exemplo é da Suíte 
	para Orquestra no.4 de J. S. Bach (1685-1750)): 
	 
	2 oboés 
	2 fagotes 
	2 trompetes 
	2 tímpanos 
	cordas e contínuo (acompanhamento do cravo) 
	 
	Entretanto, não havia nenhum padrão que definisse exatamente quais 
	instrumentos seriam designados para cada obra. O único consenso eram as 
	cordas. Em quase toda a música barroca a formação instrumental tinha como 
	imprescindível a presença de uma seção de violinos, violas, violoncellos ou 
	violas da gamba e por vezes um violone, ou rabecão, hoje conhecido por 
	contrabaixo. Foi muito conhecida por esta época, a orquestra do rei Luis XIV 
	da França, comandada por Jean-Baptiste Lully (1632-1687). Era chamada 
	"os 24 violinos do Rei", e contava por vezes com o apoio de uma outra 
	orquestra de 10 oboés e 2 fagotes. 
	A escolha dos instrumentos variava segundo a disponibilidade da orquestra 
	ou conjunto que iria tocá-la (a partir da encomenda do mecenas), das 
	condições acústicas, e algumas vezes até do pedido expresso do Rei ou nobre 
	que encomendou a obra. Os compositores só tinham liberdade de escrita quando 
	escreviam por conta própria.  
	O compositor alemão Georg Friedrich Haendel (1685-1759), por exemplo, 
	teve algumas encomendas do rei da Inglaterra que o fizeram pensar seriamente 
	na maneira de orquestrar sua obra: pediu-lhe o Rei uma música que fosse 
	tocada enquanto queimavam os reais fogos de artifício em comemoração pelo 
	fim da Guerra da Sucessão Austríaca. O problema é que o barulho dos fogos 
	encobriria o som de uma orquestra, ao que acrescenta o fato de que seria ao 
	ar livre. Haendel não teve dúvida, orquestrou sua obra, a Royal Fireworks 
	Music, com uma imensa quantidade de instrumentos de metal (trompetes, 
	trompas e trombones) e percussão, para fazer o som mais audível possível, 
	além das madeiras habituais (oboés, flautas e fagotes) mas sem cordas! 
	Haendel não agüentou e fez uma versão para salas fechadas, desta vez com 
	número menor de instrumentos e com a seção de cordas completa.  
	 
	Por essa época, passagem do séc. XVII para o XVIII, era muito comum o 
	acompanhamento do cravo, instrumento de teclado muito suave e sem dinâmica, 
	para reforçar a harmonia produzindo harpejos e floreios em cima da melodia. 
	Esta prática, chamada de contínuo, ou cravo contínuo, estendeu-se até por 
	volta de 1780.  
	Mas ainda em meados do séc. XVIII, uma significativa mudança de ordem 
	estética renovou alguns conceitos do estilo musical na Europa de maneira 
	muito abrangente. Devido à evolução no estilo, na instrumentação e nas 
	produções das óperas, que na época eram as referências musicais mais 
	importantes, a orquestra ganhou um equilíbrio diferente, que também foi 
	reproduzido nas salas de concertos dos palácios e casas da nobreza. Era a 
	música Clássica. Muitos instrumentos passaram a ser exigidos com mais 
	freqüência que outros, o que acabou por determinar a formação clássica de 
	uma orquestra, dividida entre cordas (violinos, violas, violoncelos e 
	contrabaixos), madeiras (flauta, oboé, clarinete e fagote), metais (trompa, 
	trompete) e percussão (tímpanos) e que acabou por ser disposta da seguinte 
	maneira: 
	
	
		
			
				| 
				 
				8 ou 10 primeiros 
				violinos 
				6 ou 8 segundos violinos 
				4 ou 6 violas 
				4 ou 6 violoncelos 
				2 ou 4 contrabaixos 
				2 flautas 
				2 oboés 
				2 clarinetes 
				2 fagotes 
				2 trompas 
				2 trompetes 
				2 tímpanos  | 
				
				 
				 
				Orquestra de Câmara de Dresden, numa formação típica do 
				classicismo  | 
			 
		 
	 
	
	Essa formação advém de uma necessidade expressiva com conflui com a 
	mudança de estilo (do barroco para o clássico, que é menos rebuscado, mais 
	objetivo e temático), a disposição nas partes instrumentais da ópera 
	(abertura e intermezzos) e também pelo início de construções apropriadas 
	para aproveitar todo o potencial acústico dos instrumentos. O salão dos 
	palácios dá lugar às salas de concerto, ainda salões adaptados, mas já 
	pensando num fim exclusivo de apreciação musical (antes, nos salões, os 
	nobres conversavem a comiam enquanto os músicos tocavam - Mozart foi um dos 
	primeiros a se rebelar contra isso e recusava-se a tocar para quem não 
	estivesse atento à música).  
	E, pela primeira vez, apesar de variantes mínimas, foi possível 
	estabelecer um padrão comum à disposição instrumental, o que permitia uma 
	mobilidade muito maior de obras, ou seja, uma obra poderia ser tocada sem 
	perdas por qualquer orquestra da Europa. Esse padrão é normalmente atribuído 
	a Joseph Haydn (1732-1809), chamado também o 'pai da Sinfonia' 
	(escreveu 104 delas), pois, embora não tenha sido ele propriamente seu 
	inventor (e sim um conjunto de compositores, incluindo ele, a formar um 
	padrão de equilíbrio), ele foi o maior responsável pelo desenvolvimento e 
	consolidação deste estilo, enquanto gênero e forma. Podemos citar outro 
	compositor, menos conhecido, mas que também contribuiu para que esta 
	formação se consolidasse, por seu equilíbrio perfeito e combinação 
	harmoniosa: Johann Stamitz (1717-1757), que pôde desenvolver essa 
	formação graças à direção de uma orquestra muito famosa em sua época, a 
	Orquestra de Mannheim. Este conjunto era considerado o melhor de toda a 
	Europa, e referência para todas as demais.  
	
	
		
			
				| 
				 
				 
				Frontispício da 1a. edição da Sinfonia no. 31 em ré 'Paris' de 
				Mozart. Notar a típica orquestração clássica de instrumentos aos 
				pares  | 
				
				 
				Todas as últimas 
				sinfonias de Haydn, as primeiras de Schubert e Beethoven e de 
				uma série de outros pré-românticos, como Mendelssohn, 
				utilizam-se desta formação. Mas existem muitas variantes. 
				Mozart, por exemplo, não usa o clarinete nem os tímpanos em 
				muitas de suas sinfonias. São casos isolados, entretanto. O fim 
				do período clássico já aponta para as tendências românticas, 
				pois na medida em que instrumentos novos iam sendo criados, ou 
				antigos eram aperfeiçoados, os compositores imediatamente 
				absorviam estas mudanças e utilizavam todos os recursos 
				disponíveis em suas obras.  | 
			 
		 
	 
	
	O Romantismo foi um movimento estético cuja origem é didaticamente 
	atribuída a Ludwig van Beethoven (1770-1827), por acrescentar à 
	música valores e caracteres antes nunca pensados em termos musicais. O 
	aumento da expressividade através de dinâmicas contrastantes, ritmos e 
	timbres marcados e definidos, além de uma sutileza narrativa ímpar, fizeram 
	de Beethoven o porta-voz de um novo pensamento musical. Do ponto de vista da 
	orquestra, o romantismo foi o responsável direto pela saída da música das 
	cortes reais e salões aristocráticos para os teatros e as salas de concerto, 
	acessíveis a um número muito maior de pessoas, nobres e plebeus. Com isso, o 
	pequeno espaço dos palácios antes destinado à uma pequena formação clássica, 
	deu lugar agora a grandes teatros, que não só precisavam mas também pediam 
	uma potência sonora maior. Beethoven começou, pela própria necessidade desta 
	potência, a acrescentar instrumentos: a orquestra romântica começou 
	aumentando as cordas e os metais: 14 primeiros violinos, 12 segundos, 8 
	violas, 8 cellos e 6 contrabaixos, além de 4 trompas ao invés de duas. O 
	romantismo foi o grande responsável, ao acrescentar a dimensão dramática à 
	música, por desvincular totalmente a música instrumental da ópera, fazendo 
	delas duas instâncias muito diferentes. Foi justamente a partir do final do 
	classicismo que ambas tomam rumos diferentes.  
	No romantismo, outros compositores, compartilhando de idéias similares ou 
	mesmo pensando em expressar uma nova dimensão musical - a potência sonora - 
	como recurso estético, partiram em busca de novas combinações instrumentais.
	 
	Foi então que, por volta de 1830, o compositor francês Hector Berlioz 
	(1803-1869) escreveu o primeiro estudo sistemático de como se devia compor 
	uma massa orquestral que suprisse a necessidade sonora do romantismo. O 
	Tratado de Instrumentação e Orquestração de Berlioz ainda hoje é uma 
	fonte riquíssima de consulta timbrística, tanto para estudar as 
	possibilidades individuais de cada instrumento (que ele chamou 
	instrumentação) quanto seu conjunto (a orquestração, propriamente). Para 
	Berlioz, a orquestra ideal deveria ter nada menos que: 
	
	
		
			| 
			 21 
			primeiros violinos 
			20 segundos violinos 
			18 violas 
			15 violoncelos 
			10 contrabaixos 
			4 harpas 
			4 flautas 
			3 oboés 
			3 clarinetes 
			4 fagotes 
			4 trompas 
			4 trompetes 
			3 trombones e 1 trombone-baixo 
			1 tuba 
			8 tímpanos 
			1 bumbo 
			1 par de pratos  | 
			
			 
			 
			Hector Berlioz (1803-1869)   | 
		 
	 
	
	Ele ainda sugere uma outra orquestra para fins festivos, que começa com 
	120 violinos (!), e inclui 30 harpas e 30 pianos de cauda. Bom, essa 
	orquestra nem mesmo ele foi louco o suficiente para exigir, se bem que tenha 
	chegado bem próximo em seu Réquiem op.5. Sim, Berlioz é o culpado de 
	toda a extravagância das grandes orquestrações de Wagner, Mahler e Richard 
	Strauss no pós- romantismo. Mas seus esforços e delírios foram muito bem 
	embasados, tanto na teoria quanto na prática, onde construiu obras de 
	impressionante equilíbrio orquestral, considerando o tamanho do contingente 
	exigido. Os princípios por ele enunciados do equilíbrio e uso da grande 
	orquestra lhe valeram o título de "Pai da Orquestração" e fundador da 
	orquestra moderna. Aquilo a que hoje entendemos por "orquestra" é criação 
	dele, e todos os conjuntos instrumentais anteriores, clássicos, barrocos e 
	renascentistas, são por isso, 'música de câmara'. 
	 
	Muitos fatores influenciaram tais recursos estéticos: o limiar entre o séc. 
	XVIII e XIX foi a era das grandes revoluções, onde se inserem grandes 
	movimentos científicos e sociais, como a Revolução industrial inglesa e a 
	Revolução burguesa na França. A filosofia contava com nomes de peso, como 
	Kant e os iluministas, Rousseau, Diderot, Voltaire, a literatura renova-se 
	com Goethe, Schiller, Hoffmann, pouco mais tarde Tolstoi. A marca da 
	expressividade de caráter, como se a música se tornasse um personagem, a 
	saída para grandes salas de concerto, antes só destinadas à ópera, fizeram 
	da música romântica um enorme gênero, de imensas proporções, variantes, 
	estilos, particularidades.  
	Em termos de orquestração, o romantismo se valeu principalmente de avanços 
	tecnológicos: Antes os trompetes e as trompas eram 'naturais', ou seja, só 
	emitiam uma série de notas de acordo com sua construção, os harmônicos da 
	nota fundamental. Com a invenção das chaves que possibilitavam a mudança do 
	tamanho do tubo, estes instrumentos puderam tocar todas as notas, e 
	tornaram-se porta-vozes de novas combinações melódicas. Beethoven já havia 
	incluído o trombone, mas as tubas, grandes instrumentos graves de metal, 
	antes destinados às bandas militares (ao ar livre era necessário um 
	instrumento grave de grande potência sonora), passaram também a ser 
	incluídos na orquestra. Todos os primeiros românticos, como Schubert,
	Schumann e Weber, procuraram seguir o modelo orquestral de 
	Beethoven. 
	
	
		
			
				| 
				 
				Richard Wagner 
				(1813-1883) precisou esperar a música se desvincular da ópera 
				para poder uni-las novamente no ideal estético grego, a obra de 
				arte total. Para isso, desenvolveu o drama musical, 
				espécie de ópera cuja narrativa é sinfônica, e a orquestra um 
				personagem, tanto quanto os cantores. Valendo-se das 
				experiências de Berlioz, quem muito admirava, imaginou novas 
				possibilidades de timbres baseado no ideal dramático que 
				precisava representar. Para tanto, precisou ele mesmo projetar e 
				mandar construir instrumentos específicos, variações de trompas 
				e tubas, para poder representar suas idéias - extravagantes e 
				geniais. Sua obra mais conhecida, o Anel dos Nibelungos, 
				utiliza-se de um grande número de trompas (8), além de tubas 
				tenor, 3 a 4 trompetes, 4 trombones, tubas contra-baixo, e 6 
				harpas.  | 
				
				 
				 
				Wagner   | 
			 
		 
	 
	
	A partir de Wagner a orquestra nunca mais será a mesma. O romantismo a 
	esta altura, por volta de 1840, já possui muitas facções. A música antes 
	restrita ao eixo Alemanha - França - Itália é descoberta por compositores de 
	diversos países, que unem sua tradição folclórica à escrita erudita, 
	iniciando a escola Nacionalista. O primeiro representante foi 
	Fréderic Chopin (1810-1849) na Polônia, e seguiu-se Franz Liszt 
	na Hungria (inventor do poema sinfônico), e em vários outros países do norte 
	e leste europeu: na Tchecoslováquia, Smetana e Dvórak, na 
	Rússia, Tchaikovsky, e o 'grupo dos cinco', formado por 
	Rimsky-Korsakov, Mussorgsky, Borodin, Balakirev e
	Cui. Na Noruega, Edvard Grieg, na Finlândia, Jean Sibelius. 
	A Alemanha reagiu com um compositor neo-clássico, cujas idéias musicais 
	eram materializadas por orquestras muito menores que as wagnerianas e suas 
	variantes: Johannes Brahms (1833-1897) foi um caso à parte, pois 
	conseguiu ser extremamente romântico sem nenhum exagero na potência sonora. 
	Apesar de usar orquestras maiores que as de Beethoven, em comparação com 
	Wagner a orquestra de Brahms é clássica, reagindo a excessos que considerava 
	musicalmente inócuos. 
	 
	A morte de Wagner representou também, principalmente na Alemanha e Áustria, 
	o fim do romantismo. Apesar deste movimento esteticamente se manter em 
	outros lugares, se expandindo para países latinos e para a América, em seu 
	berço ele já apresentava sinais de saturação. Wagner levou a narrativa 
	sinfônica a graus nunca antes imaginados de intensidade e duração, assim 
	como de potência sonora. Os compositores que o seguiram diretamente foram 
	Anton Bruckner (1824-1896) Gustav Mahler (1860-1911), e 
	Richard Strauss (1864-1949). Eles representam o pós-romantismo, fase a 
	que coube a responsabilidade de trazer toda a bagagem de uma imensa tradição 
	musical para o século XX, e dar condições para o desenvolvimento da música 
	moderna. Tais compositores exploraram todas as possibilidades combinatórias 
	instrumentais possíveis neste universo, desde o domínio das formas 
	acadêmicas à ruptura e combinações inéditas de timbres, sendo considerados 
	os ápices de toda a tradição orquestral da música no ocidente. 
	A título de comparação, vamos analisar a orquestração de 4 obras, duas 
	clássicas já bastante avançadas, e duas representantes deste período 
	pós-romântico: 
	
	
		
			
				| 
				 
				Beethoven: 3a. 
				Sinfonia <Eróica>  | 
				
				 
				Beethoven: 9a. 
				Sinfonia  | 
				
				 
				Mahler: 2a. Sinfonia 
				<Ressurreição>  | 
				
				 
				R. Strauss: Eine 
				Alpensinfonie   | 
			 
			
				| 
				 
				2 flautas 
				2 oboés 
				2 clarinetes em Sib 
				2 fagotes 
				3 trompas 
				2 trompetes 
				2 tímpanos 
				Cordas (Violinos I, II, violas, cellos e baixos)  | 
				
				 
				1 piccolo 
				2 flautas 
				2 oboés 
				2 clarinetes 
				2 fagotes 
				1 contrafagote 
				4 trompas 
				2 trompetes 
				3 trombones 
				2 tímpanos  
				triângulo 
				pratos 
				bombo 
				Cordas (Violinos I, II, violas, cellos e baixos) 
				 
				Soprano solo 
				Contralto solo 
				Tenor solo 
				Baixo solo 
				 
				Coro Misto (SCTB)  | 
				
				 
				4 flautas 
				(alternando com 4 piccolos) 
				4 oboés (alternando com 2 cornes-ingleses) 
				3 clarinetes em Sib (alternando com 1 clarinete-baixo) 
				2 clarinetes em Mib 
				3 fagotes 
				1 contrafagote 
				10 trompas 
				8-10 trompetes 
				4 trombones 
				1 tuba contrabaixo 
				7 tímpanos 
				2 pares de pratos 
				2 triângulos 
				caixa clara (se possível mais de uma) 
				Glockenspiel 
				3 sinos 
				2 tam-tams 
				2 bombos 
				2 harpas 
				órgão 
				Cordas (Violinos I, II, violas, cello, baixos com dó grave, 
				todos em maior número possível) 
				 
				Soprano solo 
				Contralto solo 
				 
				Coro Misto (SCTB)  | 
				
				 
				4 flautas (alter. 
				com 2 piccolos) 
				3 oboés (alt. com 1 corne-inglês) 
				1 Heckelphone 
				1 Clarinete em Mib 
				2 Clarinetes em Sib 
				1 clarinete-baixo 
				3 fagotes 
				1 contra fagote 
				4 trompas 
				4 tubas tenor (alternando com 4 trompas) 
				4 trompetes 
				4 trombones 
				2 tubas 
				2 harpas 
				órgão 
				máquina de vento 
				máquina de trovão 
				Glockenspiel 
				pratos  
				Bombo 
				caixa clara 
				triângulo  
				sinos de vacas 
				gongo 
				celesta 
				8 tímpanos 
				18 violinos 1, 
				16 violinos 2, 
				12 violas,  
				10 cellos 
				8 contrabaixos 
				 
				Fora do palco: 
				12 trompas 
				2 trompetes 
				2 trombones  | 
			 
		 
	 
	  
	
		
			
				| 
				 
				 
				Caricatura satirizando as extravagâncias sinfônicas de Richard 
				Strauss (no topo, regendo)  | 
				
				 
				Basta ver a tabela 
				de orquestração para ver em que pé de excentricidade o 
				pós-romantismo alcançou. Richard Strauss (que nada tem em comum 
				com o Johann Strauss das valsas) foi o mais criticado por suas 
				exigências, sendo freqüentemente atacado pela crítica por sua 
				obra `oca´e maquiada pela potência sonora. Mas atualmente, não 
				se pode negar a extrema habilidade de Strauss em extrair de um 
				gigantesco contingente instrumental uma sonoridade pura e 
				nítida.  
				Já os russos, Borodin, Mussorgsky, Tchaikovsky 
				e Rimsky-Korsakov (autor de outro tratado de 
				orquestração, posterior ao de Berlioz, mais sintético e menos 
				extravagante), preferem a percussão mais variada, com 
				instrumentos mais exóticos. Há de se mencionar também o talento 
				nato de Tchaikovsky para distribuir timbres de suas melodias, 
				fazendo de suas obras verdadeiras aulas de orquestração(segundo 
				Shostakovich).  | 
			 
		 
	 
	
	Os franceses Maurice Ravel (1875-1937) e Claude Debussy 
	(1862-1918) também seguem a premissa russa. Ravel é também um caso à parte, 
	por que embora não se utilize de orquestras tão grandes quanto as alemãs, 
	era um orquestrador extremamente hábil, que extraía resultados magníficos de 
	um conjunto bastante sintético. Sua maior virtude e originalidade no uso de 
	timbres era a combinação rítmica. Ravel trabalhava os timbres da orquestra 
	ritmicamente, e com isso acrescentava uma diversidade de combinações tão 
	grande que temos a impressão de que suas orquestras são maiores do que 
	realmente são, apesar de grandes. Stravinsky, por essa habilidade minuciosa, 
	apelidou-o de 'relojoeiro suíço' da orquestração. 
	 
	É importante salientar que o padrão romântico normalmente descrito como 
	sendo o número correto de instrumentos a ser utilizados é raramente 
	satisfeito. Isso se dá por que, principalmente no romantismo e nos períodos 
	posteriores, as obras eram orquestradas em função das necessidades 
	"pessoais" de cada obra. O compositor deveria ter apenas o bom senso de, 
	após o estudo dos fundamentos acústicos e da formação clássica da orquestra, 
	equilibrar corretamente as potências e os timbres para obter o melhor 
	resultado previsto possível. A orquestra romântica tem, portanto, uma grande 
	diversidade de formações, pois não há um número padronizado de instrumentos, 
	variando segundo o gosto e a necessidade do compositor. 
	Entretanto podemos, de maneira didática, dividir a orquestra romântica em 4 
	formações: 
	 
	Orquestra reduzida: São remanescentes da formação clássica 
	padronizada, apesar de incorporarem recursos extras mais próximos do modelo 
	de Beethoven. Possuem de 60 a 80 músicos e em geral são formadas por 
	madeiras a 2 (2 flautas, 2 clarinetes, 2 oboés e 2 fagotes), 2 ou 4 trompas, 
	por vezes 1 ou 2 trombones ou ainda um metal grave (tuba ou o antigo 
	ophicleide, que já não existe mais), além das cordas por vezes mais 
	numerosas e percussão variada (em geral par de tímpanos, triângulo ou 
	pratos). Ex. : Sinfonias de Mendelssohn (3a. 'Escocesa' e 4a. 'Italiana'), 
	últimas sinfonias de Schubert e concertos de Brahms, Schumann, Mendelssohn. 
	 
	Orquestra Standard: Formação mais comum, visto que correspondem aos 
	ideais românticos de diversidade timbrística, principalmente no acréscimo de 
	instrumentos de percussão e metais: madeiras a 2, por vezes com inclusão de 
	flautim e contra fagote, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, 1 tuba, mais 
	cordas (incluindo por vezes a harpa) e percussão variada, como prato, 
	triângulo, bumbo, caixa clara, e tímpanos. Em geral são orquestras que 
	variam de 80 a 90 músicos. Ex.: 4 Sinfonias de Brahms, 6 Sinfonias de 
	Tchaikovsky, primeiras 4 sinfonias de Bruckner, Sinfonias de Dvórak, 
	aberturas e Sinfonia Fantástica de Berlioz, poemas sinfônicos de Liszt, 'La 
	Mer' de Debussy, 'Boléro' de Ravel 
	 
	Grandes Orquestrações: São privilégio de grandes orquestradores, que 
	conseguem unir a fluidez melódica com a ciência de exploração de timbres sem 
	que se perca o fio narrativo. Poucos conseguiram com maestria. Exigem mais 
	de 100 elementos para sua execução e costumam se valer de propriedades 
	acústicas específicas destas formações, obtendo assim efeitos sonoros 
	extraordinários, catarse estética. Há enorme perda desta catarse quando uma 
	obra destas é ouvida em locais inadequados acusticamente ou em gravações de 
	qualidade duvidosa.  
	A grande orquestração é composta de 100 a 120 elementos e tem em geral: 
	madeiras a 4 ou a 5, por vezes incluindo clarinetes-baixos, requinta e 
	saxofones, além dos habituais flautins e contra fagotes. Além disso, dispõe 
	de 6 a 8 trompas (em raras ocasiões mais), de 3 a 6 trompetes, 4 trombones e 
	1 ou 2 tubas. Ao enorme contingente de cordas acrescenta-se 1 ou 2 harpas, 
	por vezes órgão e uma grande quantidade de percussão, incluindo os habituais 
	pratos, triângulos e bumbo, mas com 4 a 8 tímpanos, celesta, carrilhão, 
	tan-tan, glockenspiel, xilofone, caixa clara, máquina de vento e mais o que 
	a imaginação mandar.  
	Há obras neste quesito que também incluem timbres vocais, não somente 
	solistas mas também grandes coros . Ex. : Sinfonias de Mahler: 1a.('Titan'), 
	2a. ('Ressurreição'), 3a., 5a., 6a., 7a, e 9a.; Poemas tonais de Richard 
	Strauss: 'Also Sprach Zarathustra', 'Don Juan', 'Till Eulenspiegel', 'Uma 
	vida de Herói'; Holst: 'Os Planetas'; Stravinsky: 'A Sagração da Primavera', 
	Wagner: 'O Anel dos Nibelungos', 'Tristão e Isolda'; Ravel: 'Daphnis et 
	Chloé' 
	 
	Imensas Orquestrações: São raras e muito caras. Em geral utilizam-se 
	de mais de 150 músicos (podendo chegar até a 200) mais grandes coros ou 
	solistas vocais. Produzem efeitos sonoros monstruosos em salas de concerto, 
	mas raramente têm méritos musicais superiores às grandes orquestrações. Na 
	maioria das vezes, apenas preenchem quesitos de massa sonora, por vezes 
	exageradamente. Possuem a mesma formação das Grandes orquestrações, mas com 
	a número de executantes aumentado (Ao invés de 6 trompas, 12; ao invés de 4 
	flautas, 6). 
	Ex.: 'Réquiem' de Berlioz (exige, por exemplo, 16 tímpanos); 'Eine 
	Alpensinfonie' de Richard Strauss (exige, por exemplo, 20 trompas), 'Gurrelieder' 
	de Schoenberg, Oitava Sinfonia de Mahler ('dos Mil'), Sinfonia 'Gótica' de 
	Havergal Brian. 
	 
	Pode-se ainda classificar uma orquestra para fins festivos, orquestras 
	especiais feitas sob encomenda para execuções destinada a grandes multidões, 
	em geral ao ar livre, e comemoram algum fato extraordinário. Possuem versões 
	reduzidas para orquestra Standard para serem executadas nas salas de 
	concerto. 
	Ex.: Sinfonia Fúnebre e Triunfal de Berlioz; Abertura 1812 de Tchaikovsky 
	 
	Assim nasceu uma nova forma de classificar determinados compositores, 
	segundo a potência sonora. Muitas vezes esse quesito é confundido com 
	habilidade em orquestrar. São coisas distintas; uma coisa é escrever boa 
	música para poucos ou muitos instrumentos, outra coisa é escrever música 
	ruim para poucos ou muitos instrumentos. Uma boa maneira de ilustrar isso é 
	citar Brahms, que, caso se aventurasse a compor para orquestras tais como as 
	de Wagner ou Mahler, certamente teria grande parte de seu material semântico 
	riquíssimo, a clareza e objetividade das idéias, prejudicado pelo excesso de 
	timbres. Mas, felizmente, como Brahms possuía um bom senso musical inegável, 
	soube tirar da formação orquestral clássica resultados de expressividade 
	incomparáveis. Do outro lado, citam-se os chamados "grandes orquestradores", 
	que tinham um talento para escrever música com números elevados de 
	instrumentos sem perderem-se no emaranhado harmônico, melódico e timbrístico 
	que tal contingente normalmente causaria aos desprovidos deste talento. 
	Estes mestres da orquestração foram Berlioz, Wagner, Liszt, Tchaikovsky, 
	Mahler, Richard Strauss (talvez o melhor deles), Ravel, Elgar, 
	Rimsky-Korsakov e Stravinsky. Hoje em dia este critério pode ser revogado, 
	porque, afinal de contas, Debussy, ou até mesmo Brahms, que nunca usaram 
	orquestras muito grandes, foram extremamente hábeis no uso contido de 
	instrumentos. Sob este aspecto, não ficam nada a dever aos grandes 
	orquestradores. O próprio Beethoven pode ser considerado um grande 
	orquestrador para os padrões clássicos. Mas, no quesito potência sonora, tal 
	classificação ainda pode ser de alguma valia. 
	
	
		
			| 
			 
			 
			A suntuosa Orquestra Filarmônica de Berlim, atualmente regida por 
			Simon Rattle, é considerada a melhor orquestra do mundo, por sua 
			excelência técnica e sonoridade poderosa, percorrendo com segurança 
			e desenvoltura todas as nuances dinâmicas de uma partitura 
			  | 
		 
	 
	
	Após o período romântico e pós-romântico (a passagem do séc.XIX para o 
	XX), a chamada música moderna entrou em cena. O que havia sido a ópera na 
	formação e desenvolvimento da orquestra no séc. XVI e XVII, foi no séc. XX 
	feito através do Ballet. A formação instrumental, com exceção dos 
	compositores que já vinham da tradição anterior (ou os que a absorveram 
	totalmente), se deu com as encomendas que grandes companhias de ballet 
	fizeram aos compositores modernos. A mais conhecida e famosa foi a Companhia 
	de Ballets russos de Sergei Diaghilev, para quem Igor Stravinsky 
	escreveu O Pássaro de Fogo, Petruschka e A sagração da 
	Primavera; Ravel Daphnis et Chloé, Debussy Jeux, El 
	sombrero de Tres Picos de Manuel de Falla, Parade de Erik Satie, 
	entre outros. O mundo da coreografia, foi, portanto, uma das principais 
	correntes que nortearam os padrões da orquestra no início do séc. XX. Os 
	padrões, de um grande número de instrumentos segundo a tradição 
	pós-romântica, foi naturalmente caindo, primeiro pelo enorme custo de 
	grandes produções (já não havia mais o antigo mecenas, nobre ou imperador), 
	e depois pela necessidade estética de adentrar novos universos nos campos da 
	harmonia e timbres que não fazia mais necessária a intensidade sonora em 
	termos de volume. 
	Com algumas exceções, a tendência geral da música, principalmente depois 
	da Primeira Guerra, foi a de conter o número de instrumentos. Escreveu-se 
	muito para formação clássica e ainda mais para formações camerísticas. Com a 
	chegada das estéticas neo-vanguardistas do pós- Segunda Guerra, como música 
	concreta, aleatória, eletrônica, minimalista, etc., a tendência foi manter a 
	orquestra resumida. Aliás, muito pouca música para este tipo de formação foi 
	produzida, se compararmos com a produção anterior. Os compositores 
	exploraram formações completamente diferentes, como por exemplo Carl Orff, 
	que apesar da famosa Carmina Burana ser para Grande Orquestra, 
	escreveu uma estranhíssima obra chamada 'Antigonae', baseada em 
	Sófocles, sem harmonia nem melodia, apenas ritmo, feito por uma orquestra de 
	pianos, harpas, oboés e percussão. A busca por efeitos inusitados, mescla de 
	timbres ao sintetizador e preparação acústica específica de instrumentos 
	(como John Cage e sua sonata para 'Piano Preparado'), fizeram 
	basicamente os objetivos da música do século XX no que diz respeito ao 
	timbre. Mas, neste aspecto, já estamos longe do que representa o termo 
	'orquestração' propriamente. 
	 
	Orquestração, portanto, é uma arte que pode ser aplicada a qualquer formação 
	instrumental diversa e que conta com um único critério determinante em sua 
	composição: o Equilíbrio . Assim como a forma-sonata representa o equilíbrio 
	estrutural, arquitetônico da obra, a orquestração representa, para a obra 
	sinfônica, - me permitam a comparação culinária - o tempero e a maneira de 
	preparar o prato, que, no caso, corresponde ao discurso musical. Cada 
	instrumento tem uma personalidade intrínseca e seu conjunto sonoro é uma 
	reunião determinada de ingredientes misturados para alcançar um objetivo 
	palatável e digerível. Considerando os ingredientes como o material 
	semântico, a melodia, harmonia, ritmo e andamento, a orquestração é o modo 
	de preparar e o acréscimo das especiarias que darão gosto ao discurso 
	musical. Um bom chef de cozinha sabe variar os temperos e a maneira de 
	misturar a massa para obter diferentes sabores. Este é o orquestrador. 
	 
	Voltando ao planeta Terra, concluo adicionando mais um pequeno detalhe sobre 
	o equilíbrio instrumental: Sua disposição física no palco. O posicionamento 
	destes instrumentos num palco de salas de concerto também é um fator 
	relevante para o equilíbrio da massa sonora produzida, e deste modo, a 
	formação clássica também se ocupou de padronizar sua disposição, 
	considerando, ainda que intuitivamente por parte de muitos compositores, 
	leis físicas elementares: instrumentos de maior ressonância acústica vão 
	ficando para trás, e de menor ressonância, para frente, indo 
	progressivamente dos mais suaves aos mais fortes. Por essa razão é que as 
	cordas (violinos I e II, violas, cellos e contrabaixos) encontram-se no 
	primeiro plano do palco, seguidos pelas madeiras (flautas, oboés, clarinetes 
	e fagotes), metais (trompas, trompetes, trombones e tuba - esta seção é 
	anedoticamente chamada de "cozinha" da orquestra), e lá no fundo, a 
	artilharia da percussão, que não precisa fazer muito esforço para produzir 
	um barulho considerável. Este esquema retrata bem a disposição mais comum 
	numa orquestra moderna, apesar de, a critério do maestro, ela possa mudar: 
	
	
	
	
	  
	  
      
    
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